[Contêm Spoilers]
Livro estúpido que me fez chorar que nem uma Madalena arrependida.
Tenho que começar a ler as sinopses dos livros, começa a tornar-se um hábito julgar livros apenas pela capa e depois acabo a chorar.
Definitivamente este é um daqueles livros que toda a gente deve de ler. Eu juro que pensei que estivesse mais inclinado para a auto-ajuda ou para a não ficção, mas a verdade é que é uma ficção na qual qualquer pessoa se consegue identificar com a personagem principal.
Vamos por partes sim? É que senão vou acabar por não fazer qualquer sentido visto que acabei agora mesmo de ler o livro e foi uma viagem emocional bastante atribulada.
O livro começa quando Bree recebe uma carta de rejeição. Com apenas dezassete anos já escreveu dois livros e ambos foram rejeitados por todas as editoras ás quais foram enviados. Segundo o professor de inglês de Bree o problema é ela não levar uma vida interessante, tentar passar despercebida e por isso as coisas que adolescentes de hoje em dia fazem é algo completamente desconhecido para ela.
Como solução, o melhor amigo, Holdo, sugere que ela crie um blog, dessa maneira passa a ser uma autora, tecnicamente, publicada e a sua escrita chega a mais pessoas que não o seu pequeno circulo de leitores (nomeadamente Holdo e o professor de inglês).
Depois de uma noite a beber vinho caro e a ter conversas filosóficas com Holdo, Bree acaba por criar um blog a que dá o nome "Manifesto de Como Ser Interessante" e baseia-se em simples regras que ela cria e depois descreve o processo para as cumprir.
Regra nº 1- É preciso ser atraente
Regra nº 2 - Ser amiga de outras pessoas atraentes
Regra nº 3 - Ter sexo com outras pessoas atraentes
Regra nº 4 - Apaixonar-se por alguém proibido
Regra nº 5 - Perder a noção de si própria, cair numa enorme confusão emocional e falhar como pessoa
Ao todo são seis regras, mas falarei da última mais à frente.
Bree cumpre todas as regras e, subtilmente, a autora vai desenvolvendo a relação entre personagens. No inicio do livro, Bree não se dá bem com os pais, chegando mesmo a referir que, de certa forma, os odeia, mas com as mudanças exteriores, Bree e a mãe aproximam-se bastantes e é fantástico ver esse desenvolvimento porque inicialmente pensamos que finalmente ela está a tornar-se a filha que os pais sempre desejaram, mas na realidade trata-se da primeira vez que ela pede ajuda aos pais e que os deixa entrar na sua vida.
Com a nova popularidade de Bree, Holdo é deixado para segundo plano. Ela não conta a ninguém sobre o blog ou sobre o seu plano e isso inclui o seu melhor amigo. De dia para dia vamos vendo o afastamento deles. Apesar de ela nos explicar o porquê não deixa de ser revoltante ver alguém correr o risco de sacrificar uma relação de amizade verdadeira por uma experiência literária.
Quando as duas primeiras regras são cumpridas, Bree passa para a terceira e, na minha opinião, a mais revoltante de todas. Voluntariamente ela seduz o rapaz mais popular da escola, Hugo, alguém que ela despreza e por quem não se sente minimamente atraída, e vai para a cama com ele. Ela perde a virgindade pelo bem desta experiência social, uma experiência que ela criou, com as regras que ela criou. Chamem-se "old fashion" mas a meu ver nada neste mundo vale tal sacrifício.
Na quarta regra, Bree, desde o inicio, apaixona-se pelo professor de inglês, Logan. Estamos a falar de uma homem casado, muito mais velho e que é seu professor. Até aqui não tenho nada contra isso, esse tipo de coisas acontece quando menos se espera, mas algo não conectou bem.
No inicio do romance a autora refere um artigo sobre a psicologia do romance entre aluna e professor. Basicamente que o professor deixa o romance começar porque é uma maneira de viver as fantasias que não conseguiu realizar quando tinha a idade da aluna. Ou seja, Logan era um aluno não muito popular no seu tempo de escola, chego mesmo a dizer, a versão feminina de Bree antes da transformação, e de repente ali está a aluna mais popular da escola com uma crush pelo jovem professor de inglês.
Quando ele é confrontado com este estudo Logan relembra-lhe que estava interessado nela muito antes dela ser popular (no ano anterior ele tinha-a beijado num baile da escola). É um momento bastante "fofo" mas mesmo assim é difícil não sermos influenciados pelo estudo referido, especialmente com as atitudes de Logan no resto do livro.
E depois temos a regra número cinco. Hugo apanhou Bree e Logan e tenta usar isso para fazer com que Bree volte a ir para a cama com ele. Depois da experiência traumática que foi ter sexo com Hugo e para quem já tinha sacrificado tanto em nome de uma experiência, Bree faz frente a Hugo.
Com o que Bree não contava era que Hugo tinha filmado o seu encontro sexual e no dia seguinte toda a escola tinha visto o video. Num só momento, Bree foi humilhada, perdeu o seu acesso ao clube dos populares e Logan terminou tudo com ela. Algo que levaria qualquer adolescente ao extremo e Bree não é excepção.
Para além de ter sido uma pária social, Bree automutila-se e com os acontecimentos desencadeados por Hugo esse vicio é levado ao extremo. Ela acaba no hospital, mais propriamente na ala psiquiátrica.
E foi aqui que o choro começou. Quando Bree acorda é saudada por um psiquiatra e acaba por lhe contar tudo o que se passou porque, talvez pela primeira vez desde o inicio do livro, ela apercebesse que não há mal em contar a alguém o que se passa e que isso até pode trazer consequências positivas.
O médico acaba por apenas contar aos pais de Bree aquilo que ela lhe pede, sobre o video de Hugo e mantém o blog e o caso com Logan em segredo.
Quando volta à escola com um plano para enfrentar Hugo, Bree depara-se com uma escola completamente diferente. Já não é popular, Logan foi-se embora e ela está sozinha. Mas no meio disto tudo ela ergue a cabeça e enfrenta Hugo, que foi acusado de pedofilia e distribuição de pornografia.
E dois meses depois disto tudo, a escola volta outra vez a criar um burburinho à volta de Bree. O seu blog foi descoberto e o clube dos populares viram-se contra ela, atacando-a, não apenas verbalmente, mas também fisicamente. E eis que surgem todos aqueles alunos que já foram vitimas dos miúdos populares para defenderem Bree. Confesso que esta parte suou bastante falsa, talvez porque seria algo que uma pessoa veria naqueles filmes de adolescentes que querem retratar a realidade e acabam por a tornar absurda.
E eis que surge Holdo. Depois de descobrir que tudo não passou de uma experiência e que na realidade Bree não tinha passado para o lado negro (que tinha batatas fritas e não bolachas), esqueceu tudo e a perdoou. Agarrou nela, levou-a para sua casa e mostrou-lhe que o seu blog chegava a milhões de pessoas que estavam a passar pelo mesmo que Bree e que apenas queriam ser notadas. E no meio da confusão de e-mails que Bree não tinha visto estava um e-mail de uma editora a pedir para marcarem um reunião, muito provavelmente para criar um livro a partir do blog de Bree.
E o que é que ela faz? Liga ao pai, vai para casa e resolve contar tudo aos pais sobre Logan e sobre o blog.
Adorei o livro, juro que o adorei, muito provavelmente tornou-se um dos meus favoritos, mas aquele final deixou muito a desejar.
O tema do livro é do mais cliché que pode haver, milhentos livros foram escritos sobre o assunto e milhentos filmes foram feitos, mas quando pensamos que o livro vai seguir esses clichés, eis que a autora segue por um caminho diferente e inesperado.
Quando comecei a ler o livro criei logo a teoria de que a Bree ia acabar por descobrir que as meninas populares até eram fixes e que o Hugo até era um gajo decente e que ia ficar por aí, mas não. Ela descobre sim, que as meninas populares, no meio das suas maldades, também são humanas. Seres humanos com mais defeitos que qualidades, mas mesmo assim, humanas, com emoções e sentimentos.
Mas, para mim, a maior lição a tirar deste livro é "peçam ajuda". Não faz mal pedir ajuda quando não se suporta uma situação, não é sinal de fraqueza.
O que me leva à regra numero seis: Como ser realmente interessante - Deixem de se preocupar.
Não se preocupem com o que os outros pensam de vocês, não tentem ser uma cópia baratuxa de alguém que é popular, porque o ser popular não quer dizer que seja interessante. E talvez por isso o livro me tenha tocado tanto, eu não consigo atingir a regra seis, ainda. Não ando a copiar ninguém, mas não consigo deixar de me preocupar com o que os outros pensam, especialmente sobre mim.
Resumindo, dois ataques de choro num só livro. Livro estúpido.
Vamos à revisão da parte técnica? Vamos lá ...
A escrita é simples, o que torna a leitura fluída e bastante agradável. Sinceramente, não concordo concordo com o tradutor nalgumas escolhas que fez, mas isso é a minha opinião e não tenho curso ou algo do género nessa área. 8
E depois temos o belíssimo design do livro. Se tiverem oportunidade (caso não tenham o livro) vão a uma livraria e analisem visualmente o livro. É lindo, tanto a capa como a indicação dos capítulos e até o marcador embutido.
E agora vou ler algo mesmo superficial e sem qualquer qualidade literária para recuperar da montanha russa que foi este livro.
Título: "Manifesto de Como Ser Interessante"
Autor(a): Holly Bourne
Editora: Civilização Editora
Ano: 2015
Edição: 1º Edição
Nº de Paginas: 424
ISBN: 978-972-26-3709-1
Sinopse:"Que sacrifícios estamos dispostos a fazer para nos tornarmos populares?
Imprensa Internacional
"Bree, inteligente mas introvertida, poderá não parecer uma ‘rapariga comum’, mas os adolescentes e os seus pais irão reconhecer-se nos seus medos, emoções e vulnerabilidade. Bourne é uma autora de um talento prodigioso que tem o dom de transformar a ficção em realidade."
Lancashire Evening Post
"Aviso: este livro irá partir-lhe o coração como partiu o meu."
C.J Skuse, autor de Pretty Bad Things e Rockoholic
"Bourne é a escritora por quem eu estava à espera."
EscapeintoWords
Esta é a questão com que se vê confrontada a protagonista no seu blog à medida que vai anotando tudo o que é preciso fazer para se ser mais interessante aos olhos dos outros. Bree é uma blogger que leva uma vida extremamente enfadonha e se toma por fracassada mas que sonha vir a ser uma grande escritora um dia. Mais do que procurar identificar tudo o que a pode tornar mais popular ela vai de facto procurar transformar-se e mudar, espécie de metamorfose autoconsciente para ver até que ponto funciona. Mas será que compensa tendo em conta todos os sacrifícios? É isso que ficaremos a saber nestas páginas tingidas de humor negro."